sábado, 31 de março de 2007

Maquiavel não era maquiavélico

O lançamento da tradução brasileira dos Discursos sobre a primeira década de Tito Livio, em que Maquiavel trata da República, demonstra que esse pensador "maldito" foi mal compreendido e teve suas idéias distorcidas por interpretações equivocadas ou maliciosas. Abaixo seguem uma entrevista e um texto sobre o assunto publicados no jornal Folha de S. Paulo de hoje.

Livros

"Maquiavel não era maquiavélico"

Especialista no autor, Newton Bignotto afirma que "leitura parcial" ajudou a forjar o "maquiavelismo" que conhecemos

Para professor, PT não surpreenderia Maquiavel, que escreveu sobre a diferença entre a conquista e a manutenção do poder


A seguir, trechos da entrevista que Newton Bignotto, autor dos livros "Maquiavel" (Jorge Zahar, 2003) e "Maquiavel Republicano" (Loyola, 1991), além de outras obras sobre republicanismo, concedeu à Folha.
(UIRÁ MACHADO)




FOLHA - A idéia de maquiavelismo sempre precede o nome de Maquiavel e sua obra. O sr. considera justo o termo "maquiavélico"?
NEWTON BIGNOTTO - O termo maquiavélico diz respeito à maneira como a obra de Maquiavel foi lida já a partir do século 16. Alguns leitores se chocaram com suas idéias a respeito do funcionamento do poder e a tomaram como uma ameaça para os valores cristãos vigentes. Mas não podemos simplesmente descartar o "maquiavelismo" como uma má interpretação. Mesmo que seja, incorporou-se à história da obra e das polêmicas que gerou. Para compreender Maquiavel é necessário saber por que o chamaram de "maquiavélico".
FOLHA - Como surge o termo?
BIGNOTTO - O "maquiavelismo" nasce de alguma forma com a condenação dos livros do autor ao Index. A partir daí, as leituras desfavoráveis se sucedem. Na Inglaterra, sua má fama é explorada na literatura e no teatro no século 17. Maquiavel é diretamente associado ao diabo na figura do "old Nick". As críticas ajudaram a forjar a visão do maquiavelismo como pensamento do engano, da trapaça. É assim que "maquiavélico" veio fazer parte de quase todas as línguas ocidentais.

FOLHA - O sr. diria que o Maquiavel é maquiavélico?
BIGNOTTO - Da maneira como compreendemos o termo, podemos dizer que não era maquiavélico. Sua conduta não tinha nada de ambígua e sua opção pela república como a melhor forma de governo permaneceu até o fim da vida.

FOLHA - Mas ele nunca foi um defensor da boa-fé na política. Pelo contrário.
BIGNOTTO - O que chamamos de "boa-fé" no mundo privado se converte muito facilmente em ingenuidade no mundo público, e isso é uma das fontes da ruína de muitos governantes. É possível manter a crença em valores, como no caso de Maquiavel com os valores republicanos, sem perder de vista as condições reais que presidem as lutas políticas.

FOLHA - Por que o "Maquiavel republicano" não é tão conhecido?
BIGNOTTO - As leituras negativas, que em geral se inspiram no "Príncipe", nunca levam em conta os "Discursos", obra complexa e densa, que não possui o mesmo caráter direto e provocador da obra mais conhecida. Com isso, sobreviveu para o grande público uma visão parcial e redutora da filosofia de Maquiavel.

FOLHA - Podemos dizer, então, que ele foi injustiçado?
NEWTON BIGNOTTO - Não sei se injustiçado, mas certamente compreendido de forma parcial. A visão da leitura do conjunto de seus escritos é muito diferente daquela propagada pelo maquiavelismo vulgar. Um olhar do conjunto da obra de Maquiavel permite compreender melhor a profunda transformação que seu pensamento produziu na filosofia política ocidental.
De forma criativa, ele atacou ao mesmo tempo a tradição cristã e o humanismo que o precedeu e se serviu dos escritores da Antigüidade para estabelecer parâmetros novos à política. Ele procurou desvendar os meandros de seu tempo e o que ele continha de universal.

FOLHA - Como se relacionam "O Príncipe" e os "Discursos"?
BIGNOTTO - Os pressupostos teóricos são os mesmos, mas os objetos, não. Ambas partem da idéia de que todo estudo do mundo político deve se basear numa análise das coisas tal como elas são em sua "verdade efetiva", e não na maneira como gostaríamos que elas fossem num mundo ideal.

FOLHA - No ano passado, o ator Paulo Betti disse que não é possível fazer política sem colocar a mão na merda. Esse é um tipo de realismo típico de Maquiavel?
BIGNOTTO - A busca pela "verdade efetiva das coisas" é antes de mais nada uma atitude analítica, que nos ensina a compreender corretamente o objeto que chamamos de "política" e suas determinações. Ela nos ensina a evitar a abordagem do mundo público apenas a partir de ideais, que não podem ser realizados e que acabam gerando frustrações. Mas Maquiavel não diz que a vida política é sempre um fruto podre. Ao contrário, em certas ocasiões, é possível produzir grandes obras, agir de maneira arguta e eficaz, com "virtù", e isso sim caracteriza os grandes atores políticos, não o simples mergulho nas disputas cotidianas, que povoam e muitas vezes empobrecem a cena política.

FOLHA - Muitos consideram que Lula e o PT, quando chegaram ao poder, mudaram a forma de agir. Maquiavel teria sido iludido?
BIGNOTTO - O PT certamente mudou. Acho, entretanto, que Maquiavel não teria se iludido, pois um dos grandes temas do "Príncipe" é justamente o da diferença entre a conquista do poder e o de sua manutenção. Nesse sentido, todo aquele que chega ao poder tem de mudar algo se pretende mantê-lo.



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DISCURSOS SOBRE A PRIMEIRA DÉCADA DE TITO LÍVIO
Autor: Nicolau Maquiavel
Lançamento: Martins Fontes
Preço: (R$ 58; 514 págs.)
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Pensador nunca disse sua frase mais famosa

Diferentemente do que tem sido registrado ao longo dos séculos, Maquiavel jamais escreveu aquela que se tornaria a frase mais famosa de toda a sua filosofia: "Os fins justificam os meios".
Se é verdade que uma aproximação dessa idéia está presente em boa parte de "O Príncipe", é nos "Discursos" que Maquiavel chega mais perto de enunciar a máxima.
No capítulo nove do primeiro livro, afirma: "Cumpre que, se o fato o acusa, o efeito o escuse". E continua, dizendo que, "quando o efeito for bom, como o de Rômulo, sempre o escusará".
No contexto, Maquiavel diz ser necessário estar sozinho para fundar uma república. Assim, considera que, na hoje lendária fundação de Roma, Rômulo agiu corretamente ao matar seu irmão Remo para fundar a cidade.
Há uma diferença entre essa idéia e a "máxima de Maquiavel". Nesta, a justificativa dos meios se dá apenas em relação aos fins que se pretende alcançar.
Na argumentação dos "Discursos", duas condições são impostas: que a intenção seja em favor do bem comum e que os efeitos se mostrem positivos. Portanto, a justificação nunca poderia se dar antes da ação -nem mesmo antes de saber se os resultados foram de fato bons. (UM)

sábado, 24 de março de 2007

Resumo de Aula - 8

CP/TGE – AULA 8

II – Do Estado

2 – Evolução histórica do Estado. Tipos históricos de Estado: a) Estado Antigo (oriental ou teocrático): natureza unitária (família, religião, Estado, economia englobados num todo) e religiosidade (teocracia), normalmente despótico; b) Estado Grego: pólis, autarquia, auto-suficiência, liberdade política (não individual); c) Estado Romano: evolução: união das tribos, reino, república e império; d) Estado Medieval: cristianismo, invasões bárbaras, feudalismo, pluralidade de ordens, aspiração de unidade; e) Estado Moderno: soberania e territorialidade (afirmação do monarca contra a Igreja, o Império, os nobres e as cidades, a Paz de Westfália). Elementos do Estado. Futuro do Estado.

Leitura essencial: Dalmo Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo II, itens 28 a 30.
Leitura complementar: Martin van Creveld, Ascensão e declínio do Estado, Caps. 1 e 2.

sexta-feira, 23 de março de 2007

"Amigos" dos animais querem matar filhote de urso

Ativistas dos direitos dos animais preferem ver morto um filhote de urso polar abandonado pela mãe e criados por tratadores no zoológico de Berlim. O jornalista Reinaldo Azevedo comenta essa atitude e, de quebra, dá uma brilhante aula sobre o idealismo platônico e o perigo que ele representa quando abraçado por radicais. Vale a pena freqüentar o blog desse jornalista, um dos mais ácidos críticos do (des)governo Lulla e do petismo e outros radicalismos.

Você é um homem ou é um urso branco?

Na aparência banal de certas ocorrências, no recorte, temos, muitas vezes, a manifestação de um sintoma. Confrontados com o aparentemente tolo, banal, deixamos passar, com freqüência, o que é sinal de uma época. Antes que eu me inteirasse do assunto, leitores enviaram comentários ao blog sobre ativistas alemães que exigem que um filhote de urso branco seja sacrificado. Nota: eles pertencem a entidades defensoras dos animais. Knut é o nome do bichinho. Ele nasceu no zoológico de Berlim e foi abandonado pela mãe. Publiquei os comentários, não sem antes dizer cá pra mim: “Esses meus leitores têm cada uma...”

Pois é. Meus leitores são a minha salvação. À medida que me inteirava do assunto, confesso que tinha até receio de ler a razão dos tais “militantes”. E era justamente aquela que eu temia: segundo esses sábios, o ursinho, criado em cativeiro, não pode mais ser considerado um urso, já que ele acredita (!) que os tratadores é que são seus pais. Assim, que seja sacrificado — já que eles estão lá para defender, como posso me expressar?, “ursos ursos”, e não “ursos humanizados” pelo nosso amor doméstico.

A primeira implicação é filosófica — também de filosofia da linguagem. Talvez seja necessário recuperar categorias do platonismo e do neoplatonismo para que se chegue a uma definição mais precisa: “Mas, afinal, o que torna urso um urso?” Serão as quatro patas? Não só. No caso, a pelagem branca (é um ursinho polar)? Não só. Os hábitos de urso? Um urso que nascesse sem uma das patas dianteiras continuaria urso para além dessa imperfeição?

Entendi: há um urso na cabeça desses militantes, o urso ideal, o “urso-como-idéia”, de que o urso real, este que conhecemos, é uma sombra. Se ele nega uma característica, que eles consideram essencial, dadas suas teses sobre o urso, não pensam nada mais razoável do que a solução final: mate-se aquela coisa, que, na sua imperfeição, conspurca o seu “mundo como idéia”. A propósito não de ursos, mas do Mundo Como Idéia, leia um dia livro com esse mesmo título do grande poeta Bruno Tolentino.

Incrível que esse idealismo assassino de ursos mate também pessoas. Lembram-se de Terry Schiavo, a americana que levava uma vida dita vegetativa? Acharam que ela não era um urso digno de continuar vivo. Seu ex-marido, já em segundas núpcias (a sua “chaga” foi bem outra...), entrou na Justiça para que fosse desligado o aparelho que a alimentava. Tinha ainda a responsabilidade legal sobre Terry. Os pais da moça a queriam. Dispensavam o ex-marido (e seu direito legal) de quaisquer cuidados. Católica, a família se opunha a que o aparelho fosse desligado, o que acabou acontecendo. Ela demorou 13 dias para morrer. Seca como as flores de um cemitério.

À época, perguntei por que eles não podiam, então, cultivar seu “vegetal”, assim como quem rega gerânios à janela. Ah, não podia porque os cultores do “mundo como idéia” tinham conceitos muito definidos do que é uma vida. Gente não é gerânio. Vida, para eles, é aquela idealmente estabelecida. Alguns saíram às ruas com cartazes pedindo o desligamento do aparelho. Que gente era aquela que se mobilizava em favor da morte de “vegetais” com nome, sobrenome e história? Que gente é essa que se mobiliza para matar um urso branco?

Os platônicos acreditavam que se pudesse chegar a algumas idéias puras. Estes de hoje forjam a sua pureza de um consenso que é histórica e socialmente determinado. E, como tal, claro, sujeito a controvérsias. O diabo é que não aceitam a contradição; temem o dissenso; acusam-no de reacionário. Rejeitam, no fundo, as imperfeições e as precariedades da vida em nome do reconhecimento das identidades puras. Um urso tem de reproduzir as características todas “daquele” urso; uma vida humana tem de apresentar as características todas “daquela” vida humana. Nada aceitam além do que consideram ser a “verdade integral”.

Há dias, militantes homossexuais foram presos nos Estados Unidos. Protestavam, com agressividade, contra a política vigente nas Forças Armadas do país conhecida por “don’t ask, don’t tell”, algo como: “Não pergunte; não conte”. Vale dizer: homens e mulheres não são obrigados a revelar a sua condição sexual ao comando, que também está proibido de perguntar. Nada disso! Urso é urso. Vida é vida. Gay é gay. Preto é preto. Mulher é mulher. É preciso dizer, deixar claro, eliminar todas as zonas de ambigüidade, estabelecendo, assim, todas as diferenças, de maneira que cada coisa seja exercida na sua pureza absoluta, reivindicando seus “direitos”. Se possível, é preciso ter uma lei específica que a proteja, vejam só, do risco da universalidade.

Madame Roland, pouco antes de perder a cabeça na guilhotina jacobina, teria dito: “Liberdade, liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!” Duvido um pouco que tenha tido espírito para tanto em hora tão difícil. Mas o achado é bom. Não é por acaso que a Revolução Francesa é considerada um símbolo da revolta contra a tirania — e, a meu juízo, matriz das tiranias modernas. Ela leva para a teoria e para o pensamento a certeza de que as reformas são impossíveis; de que o mundo só se move pelo confronto e pela ruptura. O corolário óbvio é o de que o “outro” tem de ser eliminado porque ele me impede — como classe ou grupo — de ser plenamente o que sou.

A política, é certo, foi ganhando domínios novos nestes tempos. E foi, de certo modo, despolitizando a política propriamente dita — as disputas pelo poder — para politizar outros campos da experiência. À medida que aquele sonho de ruptura foi-se mostrando impossível, a militância foi-se deslocando para o feminismo, as identidades sexuais, a ecologia, a proteção aos animais, o “direito” de morrer e até o “direito” de matar...

Não aceitamos mais os homens impuros, imperfeitos, pecadores, indecisos, precários — estes a quem o papa vive aplicando puxões de orelha (quem ele pensa que é?). Cada um tem de dizer e ser o que é de forma absoluta, plena, total, inquestionável. Como um urso branco saído de alguma ilustração.

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/

terça-feira, 20 de março de 2007

Veja critica a TV-Lula

Em mais uma iniciativa que põe em dúvida suas alegadas convicções democráticas, o governo Lula anuncia a intenção de criar uma rede de televisão estatal, comandada pelo próprio governo, pois está descontente com a cobertura crítica que a imprensa livre dá aos fatos políticos. Ou seja: os contribuintes pagarão para que o governo dê a sua versão dos fatos, a exemplo do que acontecia na antiga União Soviética e ainda acontece em Cuba. É bom lembrar que o governo já usa suas milionárias verbas publicitárias para adoçar veículos de comunicação subservientes, como a revista Carta Capital. Hitler tinha o seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels. Sabemos como isso terminou. Será que precisamos de um Ministério da Verdade? Leiam abaixo o artigo da revista Veja desta semana sobre o assunto:

Com a faca e o queijo

Nas democracias, o governo faz e a
imprensa critica. O governo brasileiro
quer fazer e ele mesmo se auto-avaliar



Marcelo Marthe

A anunciada criação de um Ministério da Comunicação Social e de uma rede nacional de televisão estatal dedicada a fazer propaganda do Executivo sinaliza uma visão de mundo equivocada e, potencialmente, perigosa. A iniciativa do governo Lula tem defeitos graves. O principal é subverter a ordem posta de pé pela democracia grega sobre o papel da liberdade de expressão nas sociedades abertas. O governo pretende fazer políticas e, ao mesmo tempo, se auto-elogiar através de sua imprensa estatal. Os gregos já ensinavam que não se pode colocar a faca e o queijo nas mãos dos governantes. Um governo legítimo tem o poder de fazer guerras, usinas nucleares, pontes, programas sociais, nomear ministros, definir o comércio exterior, determinar o que as escolas devem ensinar e muito mais. Perfeito. A imprensa tem total liberdade para criticá-lo. Ponto.

Em Atenas, no século de Péricles, o quinto antes de Cristo, esse princípio foi enunciado por diversos dos muitos sábios daquele período áureo. Ele pode ser resumido na frase: "Algumas poucas pessoas atingem o poder de fazer políticas públicas. Todos podem criticá-las". Os gregos desconheciam, por elitistas, a parte vital dessa equação: a opinião pública. Hoje em dia, nas grandes democracias, o princípio grego teria uma formulação diferente: "O governo faz, a imprensa avalia e o público julga". É cegueira acreditar que o governo possa fazer, avaliar e julgar os próprios atos. É mistificação vender a idéia de que o governo fará e o público julgará – sem os olhos e os ouvidos da imprensa.

Com seu ministério do jornalismo e sua rede estatal de televisão, o Executivo brasileiro segue o rastro de governos que se deram muito mal, acabaram em tragédia, bancarrota, humilhação pela história ou simplesmente no anacronismo e na irrelevância. Os exemplos são os de sempre. São ditadores que inflaram suas máquinas de propaganda governamental ao tempo em que reprimiam, inviabilizavam ou simplesmente destruíam a imprensa livre. Eles foram Adolf Hitler, Josef Stalin e Mao Tsé-tung. Exemplares liberticidas prosperam nos trópicos. Casos de Fidel Castro e de Hugo Chávez.

França e Itália têm redes de rádio e televisão estatais não-educativas. Elas competem com as redes privadas e oferecem uma programação eclética, com shows, eventos esportivos e notícias. Na Itália, elas são loteadas pelos partidos, mais ou menos como na partilha dos ministérios. Seguem levemente a linha partidária. Nenhuma obedece caninamente ao governo.

Na França funcionam mais como cabides de emprego para jornalistas. A Inglaterra é exceção. Tem a British Broadcasting Corporation (BBC), emissora estatal mas não do governo. Ela tem seu próprio orçamento (pago direta e voluntariamente pelos cidadãos ingleses). A BBC é subordinada a uma agência composta de doze pessoas indicadas pelo governo com a aprovação do Parlamento. A cada ano, duas delas saem e entram outras duas, de modo que um determinado governante precisaria de seis anos para colocar apenas indicados seus na agência que manda na BBC. Os membros dessa agência – que não podem ser demitidos pelo governo – nomeiam o diretor da BBC. Isso garante liberdade de ação.

No passado, a BBC fazia apenas propaganda das políticas do governo. Até o grande Winston Churchill foi censurado pela BBC no começo dos anos 30, quando, fora do governo e do Parlamento, pregava a guerra contra Hitler. O governo inglês ainda preferia a política do apaziguamento. Em 1934, depois de quase dois anos de censura, Churchill conseguiu furar o bloqueio. Ele se vingou dizendo no ar que imaginava como o diretor da BBC devia estar suando frio, com as mãos nos interruptores, com medo de que ele dissesse "alguma coisa desagradável contra Hitler". Arrematou com humor: "Fosse pelo governo e sua BBC, São Jorge (santo padroeiro da Inglaterra) não teria matado o dragão, mas o convidado para uma conferência de paz".

Com todos os amplos recursos informativos que já possui, como a Radiobrás, o governo brasileiro precisa de uma estrutura nova de 250 milhões de reais para fazer propaganda de si mesmo? Luiz Dulci, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, incentivador da idéia, acha que sim. "O presidente decidiu que vamos ter uma rede. Para mim, está claro que será uma rede pública, que tratará com destaque questões que canais privados não tratam, como fazem as principais TVs públicas do mundo, da RAI à BBC", diz Dulci.

Jorge da Cunha Lima, presidente da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), discorda: "É mais uma tentativa de aparelhamento do estado bem de acordo com as idéias da ala radical do governo petista". Bons são os governos que garantem o bom funcionamento da sociedade, e não aqueles que querem substituí-la – seja na economia, seja na imprensa. O exemplo a evitar existe e é clássico – 1984, de George Orwell. Está lá, todo pimpão, o Ministro da Verdade, encarregado de fazer com que tudo que não esteja de acordo com o governo seja suprimido como mentira.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Resumo de Aula - 7

CP/TGE – AULA 7

II – Do Estado

1 – Origem e formação do Estado. Denominação: pólis, civitas, império, república, Estado (Maquiavel). Abrange todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram regras de convivência de seus membros. Teorias quanto à época de surgimento: a) sempre existiu (juntamente com a sociedade); b) surgiu com a evolução da sociedade; c) surgiu somente quando adquiriu características bem definidas (Estado Moderno – 1648). Causas determinantes do surgimento do Estado: a) patriarcal; b) atos de força e dominação; c) fatores econômicos (Marx e Engels); d) desenvolvimento natural da sociedade. Modos de formação: a) originária (natural e contratual); b) derivada (fracionamento e união); c) atípicas. Momento em que se considera criado: quando tem uma Constituição e/ou quando é reconhecido pelos demais.

Leitura essencial: Dalmo Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo II, itens 23 a 27.
Leituras complementares: Celso Ribeiro Bastos, Curso de Teoria do Estado e Ciência Política. Cap. III; F. Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado.

Resumo de Aula - 6

CP/TGE – AULA 6

I – Da Sociedade (elementos característicos, continuação)

6 – A sociedade política. A tendência associativa do homem e o processo de integração (diferenciação, coordenação, integração – Goffredo). Sociedades de fins particulares e sociedades de fins gerais (sociedades políticas: tribos, cidades, impérios, Estado). Objetivo é criar condições para a consecução dos fins particulares (bem comum). O Estado.

Leitura essencial: Dalmo Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo I, itens 21 e 22.
Leitura complementar: Goffredo Telles Jr., O povo e o poder; Cap. I, item 3.

sábado, 17 de março de 2007

Roberto Romano fala do privilégio de foro

Os políticos estão se mobilizando para obter foro privilegiado para os seus processos por corrupção, ou seja, querem escolher o tribunal que vão julgá-los nos procesos em que respondem por enriquecimento ilícito e pelo assalto aos cofres públicos. Se o projeto passar, um promotor não poderá mais processar o prefeito e os vereadores de sua cidade, tendo que se contentar em processar os "peixes pequenos". Leiam o artigo do professor Roberto Romano sobre o assunto:

Privilégio de Foro, licença para roubar.


Roberto Romano



O Brasil ainda está na situação de constituenda Republica. Nossa política exibe elementos suprimidos ou atenuados em outros países, como o privilégio de foro. Encontra-se no Congresso a proposta de emenda constitucional que aplica o referido privilégio para as ações de improbidade administrativa. Voltamos ao absolutismo, quando o governante era irresponsável e só prestava contas ao ser divino. A tese foi propagada por James 1, que se proclamou vice-deus e usou a Torre de Londres para esmagar democratas, advogados e juízes que cometiam a traição querer o soberano submetido à plebéia prestação de contas e às leis.



Apavora saber que no Brasil membros dos três poderes aceitem um atentado à Constituição e aos princípios da igualdade, da moralidade administrativa, da responsabilidade prescrita aos agentes do Estado. A prática e a teoria de hoje, mesmo em monarquias como a Espanha e a Suécia, recusam doutrinas anti-democráticas. Entre os defensores da desigualdade agora retomada em nosso país, encontra-se Aristóteles. Segundo ele, os homens são naturalmente desiguais : "É por natureza que a maior parte dos seres manda ou obedece" (Política, 1260a 9). Da desigualdade brota a hierarquia social e política, alicerce dos privilégios. As desigualdades servem, no entender de Aristóteles, para a vantagem de todos, dirigidos e dirigentes. Aristóteles, filósofo rigoroso, deu nome exato ao regime tido por ele como o melhor. E este nome não é democracia. Em nossa terra, a folha de parreira hipócrita impede confessar que somos um Estado oligárquico e contrário à ordem democrática. Com frequência, no entanto, cai a folha e o país escuta frases terríveis : “a história da ação de improbidade é uma história de improbidades”. Silencio o nome do autor. Ao ler o enunciado, minha face tornou-se rubra, com vergonha dos que nos regem.



Não fosse o Ministério Público, alguns políticos e formadores de opinião, o descalabro seria maior. Em 09/03/2007, no auditório Queiroz Filho do MP-SP, foi debatido o tema “Agentes Politicos e Improbidade Administrativa”. Os trabalhos, iniciados por Rodrigo C. Rebello Pinho (Procurador-Geral de Justiça) tiveram a coordenação de João F. Moreira Viegas, lúcido defensor da cidadania. Na mesa se pronunciaram Nelson Gonzaga de Oliveira (Escola Superior do MP-SP) Alexandre de Moraes (Conselho Nacional de Justiça), Plinio de Arruda Sampaio, Rodrigo Collaço (Associação dos Magistrados Brasileiros), José E. Martins Cardozo (PT-SP), Roberto Romano (Unicamp), Claudio W. Abramo (Transparência Brasil), Fernando Rodrigues (Folha de São Paulo), Franklin Martins (TV Bandeirantes).




Com pequenas discordâncias em alguns pontos, os que se dirigiram ao auditório lotado defenderam o império da lei. As falas indicaram os prejuízos da impunidade e os perigos do foro privilegiado. Dado impressionante: parlamentares, ex-prefeitos e ex-funcionários públicos paulistas respondem a 1.300 inquéritos, nos quais as cifras chegam aos R$ 36 bilhões. Celso Pitta (R$ 10,3 bilhões), Paulo Maluf (R$ 9,55 bilhões, Marta Suplicy (R$ 1,16 bilhão) e assim por diante. Existem 119 processos com base nas leis de improbidade administrativa e de ação civil pública contra administradores. Outros 40 transitaram em julgado, condenando políticos. Se voltarem aos cofres públicos, os R$ 36 bilhões, representam mais que o dobro do Orçamento da cidade de São Paulo (R$ 17,2 bilhões).



Leitor: ao escutar a expressão “privilégio de foro”, saiba que ele permite, além da ruptura com a democracia e com a república, o roubo dos impostos tirados de seu bolso. Faça as contas, busque números do Brasil inteiro, compare com os serviços públicos (segurança, saúde, educação, transportes, etc) ao seu dispor. E mande cartas, mensagens eletrônicas, telegramas ou telefone para deputados, senadores, STF e Presidente da República: todo apoio ao Ministério Público, na luta contra quem se julga “superior” à cidadania e assalta, impune, a Nação.



Roberto Romano, é Professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp.

terça-feira, 13 de março de 2007

Resumo de Aula - 5

CP/TGE – AULA 5

I – Da Sociedade (elementos característicos, continuação)

5. Poder. O que é o poder? É necessário? O que o justifica? Fenômeno social, bilateral, implica uma vontade predominante e outra submetida. As teorias anarquistas: os cínicos, os estóicos e os epicuristas; o anarquismo cristão; o anarquismo de cátedra (Duguit: poder é fato); o movimento anarquista: Proudhon (“toda a propriedade é um roubo”, “o poder político é um mal em si mesmo”); Bakunin (eliminação do Estado, da propriedade privada e da religião); Kropotkin (via pacífica, cooperação). O poder como necessário à vida social: o poder do mais forte ou do mais capaz; o poder como emanação da divindade; o povo como fonte do poder (contratualismo). A legalidade: necessidade de fazer coincidir direito e poder – graus de juridicidade (Reale). A questão da legitimidade do poder: Weber e as três formas de poder legítimo: o tradicional (independe da lei), o carismático (líderes autênticos) e o racional (autoridade investida pela lei). Burdeau: poder legítimo é poder consentido, é a força de uma idéia. A objetivação (despersonalização) do poder.



Leitura essencial: Dalmo Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo I, itens 16 a 22.
Leituras complementares: Goffredo Telles Jr., O povo e o poder; Cap. I; Miguel Reale, Teoria do Direito e do Estado, Cap. IV, item 92; Georges Burdeau, O Estado, Cap. I.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Estado com maiúscula ou com minúscula?

A "Carta ao Leitor" da revista Veja desta semana discute se o termo "Estado", no sentido de "sociedade política", deve ser escrito com inicial maiúscula ou minúscula. A revista, contrairando os dicionários (e os manuais de Teoria do Estado), opta pela inicial minúscula, ligado essa opção à sua ideologia política, de direita liberal, que prega a mínima intervenção do Estado na vida social. Da minha parte, continuarei grafando "Estado" com maiúscula e recomendando esse uso aos alunos, pois acredito que não se trata de opção ideológica, mas do correto uso de um termo técnico. Abaixo, o texto de Veja:

Uma questão de estado

A partir desta edição VEJA passará a grafar a palavra estado com letra minúscula. Se povo, sociedade, indivíduo, pessoa, liberdade, instituições, democracia, justiça são escritas com minúscula, não há razão para escrever estado com maiúscula. Os dicionaristas aconselham o uso de capitular quando a palavra for usada na acepção de "nação politicamente organizada", como prescreve o Aurélio. Seu rival Houaiss também assevera que estado nesse sentido se grafa com maiúscula. Vale a pena contrariá-los.

Escrever estado com inicial maiúscula, quando cidadão ou contribuinte vão assim mesmo, em minúsculas, é uma deformação típica mas não exclusivamente brasileira. Os franceses, estado-dependentes, adoradores de seu generoso cofre nacional, escrevem "État". Os povos de língua inglesa, generalizando, esperam do estado a distribuição equânime da justiça, o respeito a contratos e à propriedade e a defesa das fronteiras. Mas não consideram uma dádiva do estado o direito à boa vida material sem esforço. Grafam "state".

Com maiúscula, estado simboliza uma visão de mundo distorcida, de dependência do poder central, de fé cega e irracional na força superior de um ente capaz de conduzir os destinos de cada uma das pessoas. O escocês Adam Smith (1723-1790) nunca escreveu a palavra capitalismo. O inglês Thomas Hobbes (1588-1679) não utilizou a palavra estado. Ambos, porém, são associados a esses termos. Smith, autor de A Riqueza das Nações, como o primeiro pensador a explicar o funcionamento da economia capitalista. Hobbes, com seu Leviatã, como pioneiro na denúncia do estado pantagruélico. Foi, na verdade, defensor de uma instituição capaz de livrar a sociedade do estado permanente de guerra entre os indivíduos, uma "entidade soberana" – em minúsculas, recomendava Hobbes, que escrevia Lei sempre com capitular.

Grafar estado é uma pequena contribuição de VEJA para a demolição da noção disfuncional de que se pode esperar tudo de um centralismo provedor. Em inglês grafa-se "Eu" sempre em maiúscula, na entronização simbólica do indivíduo. Não o faremos. Nem vamos tirar a capitular da palavra Deus. A tentativa é refletir uma dimensão mais equilibrada da vida em sociedade, como a proposta pelo poeta francês Paul Valéry (1871-1945): "Se o estado é forte, esmaga-nos. Se é fraco, perecemos".

sábado, 10 de março de 2007

Seminários 2007 (Noturno)

1º. Semestre

1. Platão
Obra básica: A República
Data prevista: 27/02 OK
Grupo: Luciana, Rodnei, Rui, Barbara, Nyane, Roberto

2. Aristóteles
Obra básica: Da Política
Data prevista: 06/03 OK
Grupo: Pedro, Taís, Vinícius, Ricali

3. Cícero
Obra básica: Da República
Data prevista: 21/03
Grupo: Ana Paula, Andréia Juliana, Samanta Karen, Anderson Luís, Tabata

4. Bodin
Obra básica: Os seis livros da República (ver As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias, Primeira Parte, Cap. II)
Data prevista: 28/03
Grupo: Gabriela, Beatriz, Rafael, Eduardo

5. Maquiavel
Obra básica: O Príncipe (ver Clássicos da Política, Vol. 1)
Data prevista: 4/4
Grupo: Claudia, Laís, Letícia, Francine

6. Hobbes
Obra básica: O Leviatã (ver Clássicos da Política, Vol. 1)
Data prevista: 11/4
Grupo: Ismael, Thiago Marine, Bruna, Carolina, Nina

7. Locke
Obra básica: Segundo Tratado sobre o Governo Civil (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 18/4
Grupo: Adriano Machado, Rafael Costa, Sergio, Ana Paula, Marcus

8. Montesquieu I
Obra básica: O Espírito das leis (trad. Pedro Vieira Mota, ed. Saraiva) – formas de governo (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 25/04
Grupo: Luiz Fernando Miranda, Marcio, Tiago, Hellen, Nathalia

9. Montesquieu II
Obra básica: O Espírito das leis (trad. Pedro Vieira Mota, ed. Saraiva) – separação de poderes (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 2/5
Grupo: Murilo, Antonio, Manoel, Bruno

10. Rousseau I
Obra básica: Discurso sobre a desigualdade entre os homens (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 9/5
Grupo: Gisele, Vanessa, Monique, João, Nina

2º. Semestre

1. Rousseau II
Obra básica: O Contrato Social (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 8/8
Grupo: Marina, Luisa, Paulo André, Tarciso

2.Madison, Hamilton & Jay
Obra básica: O Federalista (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 22/8
Grupo: Amanda, Emanoela, Lívia, André, Luiz Fernando

3. Burke
Obra básica: Discursos (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 29/8
Grupo: Daniel, Rosana, Marta, Alexandre, Juliana

4. Kant
Obra básica: Princípios metafísicos da doutrina do direito e Paz perpétua (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 5/9
Grupo: Felipe Correa, Felipe Orosco, Agostinho, Pedro Ivo

5. Hegel
Obra básica: Princípios da filosofia do Direito (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 12/9
Grupo: Misael, Luiz Fernando, Daniel, Ricardo

6. Stuart Mill
Obra básica: Sobre a liberdade e Governo representativo (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 19/9
Grupo: Felipe, João, Bárbara, Stefani, Camila

7. Marx
Obra básica: Manifesto do Partido Comunista (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 26/9
Grupo: Vânia, Mariana, Erik, Jorge

8. Max Weber
Obra básica: A política como vocação (ver Ciência e política – duas vocações, ed. Martin Claret)
Data prevista: 3/10
Grupo: Wilson, Valmir, Claudir, Douglas, Douglas, Gustavo

9. Hannah Arendt
Obra básica: Origens do totalitarismo (Parte II, Cap. 5, “O declínio do Estado-Nação e o fim dos direitos do homem”. Ver também 50 pensadores políticos essenciais)
Data prevista: 10/10
Grupo: Elida, Michel, Gilberto, Paolo, Valter

10. Norberto Bobbio
Obra básica: Direita e esquerda (páginas 7 a 145)
Data prevista: 17/10
Grupo: Renan, Maykerson, Diogo, Caroline, Douglas

Seminários 2007 (Diurno)

1º. Semestre

1. Platão
Obra básica: A República
Data prevista: 22/02 OK
Grupo: Lucas, Bruno, Wlamyr, Renan, Vinícius

2. Aristóteles
Obra básica: Da Política
Data prevista: 01/03 OK
Grupo: Guilherme Osmar, Guilherme Falcão, Vitor, Michel, Alejandro

3. Cícero
Obra básica: Da República
Data prevista: 08/03 OK
Grupo: Débora, Márcia, Letícia, Ana Cláudia, Tiago

4. Bodin
Obra básica: Os seis livros da República (ver As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias, Primeira Parte, Cap. II)
Data prevista: 15/03
Grupo: Lívia, Luciana, Renata, Rívica, Luciana

5. Maquiavel
Obra básica: O Príncipe (ver Clássicos da Política, Vol. 1)
Data prevista: 22/03
Grupo: Anita, Eliane, Bruna, Tiago, Felipe

6. Hobbes
Obra básica: O Leviatã (ver Clássicos da Política, Vol. 1)
Data prevista: 29/03
Grupo: Ellen, Fabiana, Philip, Maria Eduarda

7. Locke
Obra básica: Segundo Tratado sobre o Governo Civil (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 05/04
Grupo: Gabriel Rangel, Guilherme, Mariana, Nicoli

8. Montesquieu I
Obra básica: O Espírito das leis (trad. Pedro Vieira Mota, ed. Saraiva) – formas de governo (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 12/04
Grupo: Vinícius Rolim, Murilo, João Araujo, Cinthia, André

9. Montesquieu II
Obra básica: O Espírito das leis (trad. Pedro Vieira Mota, ed. Saraiva) – separação de poderes (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 19/04
Grupo: João Diegues, Pedro Lopes, Mateus Augusto, Laura, Aline

10. Rousseau I
Obra básica: Discurso sobre a desigualdade entre os homens (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 26/04
Grupo: Bruna Natale, Marina Basso, Bárbara, Jacob, Erik


2º. Semestre

1. Rousseau II
Obra básica: O Contrato Social (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 9/8
Grupo: Ana Paula, Helen, Patrícia, Juliana, Ana Flávia

2.Madison, Hamilton & Jay
Obra básica: O Federalista (ver Clássicos da Política, vol. 1)
Data prevista: 16/8
Grupo: Cristina Costa, Marina Martins

3. Burke
Obra básica: Discursos (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 23/8
Grupo: Laiz, Nara, Cissa, Vanessa

4. Kant
Obra básica: Princípios metafísicos da doutrina do direito e Paz perpétua (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 30/8
Grupo: Gabriela, Ana Beatriz, Priscila, Eliane

5. Hegel
Obra básica: Princípios da filosofia do Direito (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 6/9
Grupo: Thaís Sikorski, Paula Nogueira, Erica Ferreira, Bruno Ruiz, Lílian de Souza

6. Stuart Mill
Obra básica: Sobre a liberdade e Governo representativo (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 13/9
Grupo: Élson, Pedro, Diego, José Bonifácio

7. Marx
Obra básica: Manifesto do Partido Comunista (ver Clássicos da Política, vol. 2)
Data prevista: 20/9
Grupo: Bruna, Juliana, Ana Paula, Rafaella, Bruna Fernanda

8. Max Weber
Obra básica: A política como vocação (ver Ciência e política – duas vocações, ed. Martin Claret)
Data prevista: 27/9
Grupo: Naara, Patrícia Ferreira, Mariana Borges, Lucila

9. Hannah Arendt
Obra básica: Origens do totalitarismo (Parte II, Cap. 5, “O declínio do Estado-Nação e o fim dos direitos do homem”. Ver também 50 pensadores políticos essenciais)
Data prevista: 4/10
Grupo: Cassiane, Diana, Ligia, Luís Felipe

10. Norberto Bobbio
Obra básica: Direita e esquerda (páginas 7 a 145)
Data prevista: 18/10
Grupo: Fernando Ferreira, Rafael Mourão, Caléu, Rafael, Pedro Arruda

sábado, 3 de março de 2007

Resumo de Aula - 4

CP/TGE – AULA 4

I – Da Sociedade (elementos característicos, continuação)

4. Ordem (social e jurídica). Não basta a finalidade, é preciso manifestações de conjunto ordenadas (reiteração, ordem e adequação). a) Reiteração: o bem comum é um objetivo permanente, a ser perseguido sempre. b) Ordem: é preciso que a atuação da sociedade seja ordenada em razão da finalidade. Ordem universal: lei como “a relação necessária que deriva da natureza das coisas” (Montesquieu). Diferença entre as leis naturais (mundo físico) e as normas sociais (mundo ético). A causalidade (“ser”) e a imputação (“dever-ser”). A Moral (unilateral, imperativa) e o Direito (bilateral, imperativo-atributivo). As doutrinas de Kelsen (normativismo puro) e Reale (culturalismo, teoria tridimensional). c) Adequação: ações adequadas para atingir o fim almejado. Inadequação: superexaltação da ordem, dos fatores econômicos etc.


Leitura essencial: Dalmo Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo I, itens 14 e 15.
Leituras complementares: Miguel Reale, Lições preliminares de Direito, Caps. IV e V; Hans Kelsen, Teoria Geral do Direito e do Estado, Cap. I.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Saudação do mestre Goffredo aos calouros

Tenho citado muito nas aulas o professor Goffredo Telles Junior, um dos juristas mais respeitados e admirados do Brasil. O professor Goffredo sempre foi muito querido entre os alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP) pelo amor ao Direito que ele transmitia em suas aulas. Exemplo de professor, jurista e cidadão, ele sempre aliou a busca do conhecimento à participação política, estimulando os alunos a fazerem o mesmo. Em 1977, num período de recrudescimento da repressão política pela ditadura militar, leu no pátio da faculdade uma "Carta aos Brasileiros", pedindo o retorno da democracia e das liberdades públicas. Pensou que ia ser preso logo depois, como acontecia normalmente, mas a sua atitude corajosa acabou sendo o começo de um movimento que culminou com as "Diretas Já" e a redemocratização do país. Ele aposentou-se em 1985, está hoje com 91 anos, mas continua sendo muito querido entre os alunos das arcadas. O discurso abaixo é a saudação que ele fez aos calouros de 2007, que eu, como discípulo desse mestre, estendo aos calouros da FADI.

SAUDAÇÃO AOS CALOUROS DE 2007

Prezados amigos, estudantes da Academia, Calouros de 2007, sejam bem-vindos ! As Arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco os acolhem amorosamente ! Recebam nosso quente abraço !

E queremos aplaudi-los com efusão sincera. Parabéns ! Queremos aplaudi-los vivamente pela decisão que tomaram. Desejamos felicitá-los pela excelente deliberação de fazer o curso universitário numa Faculdade de Direito.

Diante da imensidão de opções curriculares, que as Universidades oferecem aos candidatos de cada ano, vocês optaram pelo estudo do Direito.

Ah, meus amigos, permitam que eu lhes diga sinceramente, nesta intimidade familiar, que vocês optaram pelo estudo da Ciência mais preciosa da vida.

A Ciência mais preciosa ?

Sim ! A mais preciosa, sem dúvida. Não estou exagerando. Bem fácil é comprová-lo.

Vocês sabem, é claro, que a nossa vida - a nossa vida comum, de todos os dias - sempre se desenrola dentro de agrupamentos humanos ; dentro de sociedades diversas. De fato, para os seres humanos, viver é conviver. Desde seu nascimento, o ser humano convive com seus semelhantes. Começa convivendo com mãe, pai, irmãos. Depois, na escola, convive com seus colegas. Depois, convive com domésticos, com condôminos, com vizinhos, com sócios, com rivais e adversários, com amigos e inimigos. Vocês sabem que cada um de nós convive com toda essa multidão de pessoas de que a vida social é feita.

Notem, prezados amigos, notem que a convivência não é uma criação da nossa vontade. Não ! Ela é - vocês bem sabem - uma imposição de nossa natureza. Já o velho e eterno Aristóteles dizia : “O ser humano é um animal político”. É um animal feito para viver na “pólis”; um animal feito para viver “na cidade”, ou seja, na sociedade.

Ora, para viver bem, para bem conviver, é necessário bem se relacionar com o próximo. E isto significa que o relacionamento há de se realizar em consonância com normas, com imperativos que as contingências da vida social vão suscitando e impondo. Significa que a convivência exige disciplina. Sem disciplina para o comportamento das pessoas, a vida em sociedade seria uma permanente guerrilha, e se destruiria a si própria. Tornar-se-ía impossível.

Pois bem, tal disciplina - que eu denomino DISCIPLINA DA CONVIVÊNCIA HUMANA - é, precisamente, o objeto cardial do Curso na Faculdade.

Vejam o que realmente acontece numa Faculdade de Direito.

Durante os cinco anos do Curso, matérias muitas e diversas são explicadas e estudadas. Mas vocês vão ver que todas elas se prendem umas às outras. Embora cada matéria tenha seu objeto específico, todas elas se relacionam pelos seus primeiros princípios, pelos seus fundamentos, pelos últimos fins. Elas são ramos múltiplos de uma só árvore : da árvore da Ciência do Direito. Em verdade, podemos até dizer que, durante todo o multifário curso da Faculdade de Direito, o de que se estará sempre cuidando é da Disciplina da Convivência Humana.

Extraordinário objeto, este, para um Curso Universitário ! Extraordinário, em verdade, porque é um curso sobre as condições essenciais da vida em sociedade.

Não preciso acrescentar mais nada para deixar evidenciada a importância dos estudos que vocês deliberaram empreender. A Faculdade é uma Escola de Vida.

Quando o estudante termina seu Curso, recebe um diploma : o Diploma de Bacharel em Direito. Ele se torna Bacharel da Disciplina da Convivência. E se promove a cientista da convivência humana.

O que acabo de dizer merece, creio, um pensamento especial.

Aquele Diploma de Bacharel é, antes de mais nada, o título imprescindível para o exercício das nossas profissões na área do Direito - para o ofício fascinante dos Advogados, dos Juízes, dos Promotores Públicos, dos Delegados de Polícia. Mas não é só isto. De fato, aquele Diploma é uma chave, uma valiosa chave, que abre muitas portas. Vocês vão logo perceber que o conhecimento científico da Disciplina Jurídica da Convivência, de que aquele Diploma constitui fiança e garantia, é também luz para um melhor desempenho de outras profissões, em múltiplas áreas de trabalho.

Por exemplo, é luz para o comerciante que, sendo Bacharel em Direito, saberá elaborar melhor seus contratos de compra e venda ; para o agricultor, que saberá melhor fixar as cláusulas de suas parcerias, e melhor negociar suas safras ; para o jornalista, que não cometerá os costumeiros erros de Direito, ao comentar fatos acontecidos e decisões do Judiciário ; para o político e para o economista, que terão uma visão correta das distinções entre a legalidade e a legitimidade.

Utilíssima chave, aquela, que abre tantas portas do mundo ! Reparem que a ciência jurídica da convivência é luz até para eventos comuns do dia-a-dia. É luz para o relacionamento de marido e mulher, do companheiro e companheira. É luz para entendimentos dos pais com seus filhos, dos filhos com seus pais, dos adotados com seus adotantes. Para o trato com empregados, com patrões. Para a vinculação com sócios, com parceiros, com condôminos, com vizinhos. É luz até para o comportamento com inimigos. É luz inspiradora da lealdade, da moderação e da paciência. É luz para as decisões cardiais, para as grandes e pequenas decisões, diante das embaraçosas alternativas. É luz para a escolha do caminho nas encruzilhadas da existência.

O diplomado em Curso de Direito possui o conhecimento científico do que pode fazer e do que não deve fazer, nos encontros e desencontros, nos acertos e desacertos, de que é constituída a trama da comunicação humana.

E, finalmente, o diplomado em Curso de Direito adquiriu a visão científica do Direito-Justiça. E vocês vão logo verificar que a Justiça - a Justiça humana . . . - é a operação de reconhecer e de declarar, em cada caso, o que É o SEU.

Em verdade, a Disciplina da Convivência Humana é a ordenação do respeito pelo próximo. Ordenação do respeito mútuo : do respeito pelos direitos dos outros ; do respeito dos outros pelos direitos próprios, de cada um.

Vocês estão vendo que, em verdade, a Disciplina da Convivência é, um conjunto de princípios morais ; é a Ética para o comportamento na “polis”, na sociedade. É a Ética Social, a Ética POLItica, em sentido amplo. A violação dessa Ética sempre perturba a convivência humana. Infringe a ordem, e necessita repressão.

Não é de estranhar que, em épocas corruptas, de “mensalões”, “sanguessugas” et caetera, os setores normais da população vivam a clamar por “Ética na Política”.

Ah, meus amigos Calouros ! Permitam que eu, aqui, lhes dirija um veemente apelo. Não se deixem jamais seduzir pelas tentações da corrupção ! O advogado corrupto é uma triste figura ¾ eu me refiro diretamente aos advogados porque eu sou advogado. Mas fiquem certos de que todo bacharel corrupto - seja advogado, juiz, promotor público, delegado de polícia, seja o que for ¾ todo bacharel corrupto abre chaga no seio da sociedade. Ele é traidor de seu diploma, traidor da categoria de profissionais a que pertence. É traidor da ordem instituída na sociedade - dessa ordem de que ele é esteio, intérprete, muitas vezes construtor. O bacharel corrupto é traidor da Disciplina da Convivência, traidor da ordem social de que ele precisa ser sentinela e guardião.

Aliás, toda corrupção constitui atentado ao respeito pelo próximo.

Tenho a certeza de que muitos de vocês são pensadores. E eu sei que os pensadores descobrirão, certamente, na já referida necessidade de respeito de uns pelos outros, um sentimento anterior, um sentimento liminar, que é uma aspiração, um anseio do espírito, almejo de paz, de entendimento entre os seres da comunidade ; um impulso do coração, elã espontâneo de solidariedade, de amor pelos outros, de amor pelos que compartilham a sorte da mesma comunidade. Um sentimento de amor ! Tal é, em verdade, a primordial razão-de-ser do respeito pelo próximo.

Sim, os estudantes pensadores descobrirão, na gênese do respeito pelo próximo - vejam só, queridos Calouros ! - aquele mesmo sentimento que, um dia, foi manifestado no sábio e doce aconselhamento de Jesus : “Ama teu próximo como a ti mesmo”.

Em suma, os estudantes pensadores - os “filósofos” de cada turma ¾ perceberão, sem demora, que este amor, esta adesão espiritual à Disciplina da Convivência Humana e à Ética, é a condição da harmonia entre os seres humanos. Aliás, todos vocês logo verificarão que tal condição constitui, em verdade, o primeiro fundamento da Filosofia Jurídica das Arcadas.

Condição da HARMONIA ! Prestem bem atenção, senhores Calouros ! O Curso nesta Faculdade é um Curso de Harmonia. Logo, é um Curso de Beleza. E isto explica o fato de ser nosso Pateo, nosso mágico Pateo das Arcadas, o jardim de pedra onde sempre floresceu a Poesia.

* * *

Queridos Calouros de 2007 ! Recebam nosso abraço fraterno ! Desejamos a todos saúde e paz ! Formulamos votos para que vocês logo sejam, no Brasil, fiéis guardiões da Ética, sentinelas atentas da Disciplina da Convivência Humana.

Não se desliguem jamais do sonho das Arcadas ! Mantenham, por toda a vida, em seus corações, a encantada lembrança da “VELHA E SEMPRE NOVA ACADEMIA DO LARGO DE SÃO FRANCISCO”.

Após receberem seus Diplomas de Bacharéis, em 2011, inscrevam-se imediatamente na Associação dos Antigos Alunos da Faculdade. Isto assegurará, na memória de cada um de vocês, a presença pertinaz das Arcadas - presença que permanecerá no tempo em que vocês já não mais habitarem as Arcadas, e delas estarão afastados por força da vida de cada um.

Lembrem-se, caros amigos, que, em 11 de Agosto, a Academia comemora 180 anos de existência. A partir de agora, vocês passam a participar da longa e linda Crônica de nossa Escola. Deixem-se atrair pelo seu secreto encanto. Desvendam seus mistérios ! Saibam o que significa amar a Faculdade.

Calouros da eterna Academia ! Estudem com afinco a fascinante Ciência do Direito - e a iluminem com a Filosofia das Arcadas ! Amem-se uns aos outros. Sejam felizes !

GOFFREDO TELLES JUNIOR

* Quem quiser ouvir o discurso, pode acessar o link abaixo:
http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia.aspx?cod=35905